domingo, 28 de abril de 2013






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Eméritos senhores acadêmicos,
Os dias se refletem nos olhares
Diversos dos que possam nos altares
Trazer sonhos sutis, porém anêmicos.
Os surtos de vaidade ora epidêmicos
Pululam em escusos vãos lugares,
E fazem de ateneus seus lupanares,
Em jogos tantas vezes meros, cênicos.
Não quero ter nem honra ou privilégio
Do ser e estar exposto num colégio
Formado por vaidosas borboletas,
Apenas entre laivos de ternura,
Viver o quanto possa sem finura,
Numa órbita sutil de alguns cometas...

8


Ao infligir as leis da natureza
Sem perceber o quanto a volta é rude,
O temporal expressa o que não pude
Viver sem mais sentido e sem surpresa,
Não quero caçador tampouco presa,
Mas sei quanto a verdade desilude,
E mesmo me mostrando em plenitude
Eu gero em morte a sorte sem defesa,
O corte do arvoredo a fúria insana,
Ao largo do que fora o quanto explana
A luta sem valia por fortuna,
Meu mundo desabando em gozo estúpido,
Aonde se pudera um tempo cúpido
A mãe Natura aos poucos, já nos puna.


9

Legados que pudessem traduzir
A mesma insensatez de outras verdades
Criando no vazio as celas, grades,
Negando liberdades ao porvir.
O medo noutro ensejo a resumir
As tantas e dispersas veleidades
Os olhos entre campos e cidades,
A morte numa espreita a me sorrir.
No passo mais sutil, numa emboscada,
A face mais temível degradada,
A luta sem proveito, o tento atroz.
Recolho meus cadáveres e refugos,
Escarpas desenhadas pelo tempo,
Heranças do mais duro contratempo,
No açoite a traduzir terríveis jugos.

10

Legar o quanto possa ao que viria,
Deixando semeadas eras,
E quando no que possa e não esperas
Apenas destempero em fantasia,
Sem mais proveito ousando em poesia
Apascentar em mim fartas panteras,
Mesclando os meus demônios e quimeras,
Tentando o quanto além não se teria.
Arquétipos de sonhos, mero ocaso,
O preço a se cobrado sem atraso
Os juros impagáveis; morte é cota,
No pendular anseio em veio e farsa,
Na lágrima feroz, jamais esparsa,
A vida se desnuda, uma agiota...

11

Alíquotas cobradas pela vida
Em vendetas comuns, amor e glória,
A farta sensação da tosca história
Há tanto sem defesas, desvalida.
Meu canto sem respostas, nesta urdida
Batalha de terrível, vã memória,
Deixando como herança a velha escória
Em cada praça, rua ou avenida.
Os vermes passeando sobre os mortos,
Os ratos invadindo velhos portos,
Num espetáculo feroz e infame,
O cálice quebrado, a luz opaca,
O passo sem sentido algum empaca,
Nuvens de insetos; rodam. Vis enxames.

12


Pereço a cada passo quando imerso
No mundo que se mostra sem proveito,
E enquanto no vazio eu me deleito,
Ao nada noutro instante ao fim eu verso,
O prazo muitas vezes mais perverso,
O corte noutro tanto, velho pleito,
O amor que se moldara num despeito,
O risco arisco e espúrio do universo.
Negar algum sorriso e crer no corte,
Presume nesta ausência o próprio Norte,
Assinalando o fim da velha fase,
Meu reciclar eterno e sendo etéreo
Envolto pelas garras do mistério
No nada sem pudor algum defase...


13

Já nada mais pudera quem sonhasse
Com tantas e diversas ilusões
E neste caminhar o quanto expões
Tramasse noutro engodo o velho impasse,
O mundo se desdenha e não moldasse
Sequer outros cenários, corações,
Rondando e decorando dimensões
Encontra especular, rugosa face.
O templo em derrocada, o tempo dita,
A farsa noutra fase se acredita
E exprime o quanto em paz jamais coubesse,
Seguir contra a maré, lutar embalde,
Ainda quando ao fim algo rescalde,
Não sobraria ao menos qualquer messe.

14


Um sórdido sorriso, um medo explícito
O prêmio a se pagar, a luta em vão
O mundo se desenha em amplidão,
No amor quando se faz até se ilícito,
Conluios divergentes, mil batalhas,
Em hordas tão temíveis quão espúrias,
A dádiva feroz entre as lamúrias
No enredo que transformas em medalhas,
Lauréis falsificados, riso irônico,
Num mundo que se mostre desarmônico
Um merencório aspecto, outro vazio,
E neste navegar em mar insólito.
Quem fora ou se pensara algum monólito
Encontra seu espólio em desvario...


15

Viver os mesmos erros de uma ilícita
Noção de vergalhões em plena pele,
Arfando sem saber ao que compele
A vida mesmo quando em dor explícita.
A face desnudada, atroz, famélica.
A marca da pantera, a luta tétrica,
Ousando acreditar além da métrica
Noutra aversão terrível, bélica.
Esculpo velhos totens, esperança,
Motivos para os quais já não tivesse
Presumo muito além da mera prece
A voz que no vazio em vão me lança.
Viver as velhas tramas de um engodo,
Projetando do tão pouco além do todo...

16

O medo sem sentido, a néscia face
Da farsa desenhada em cada traço
Do pouco ou do jamais que aquém eu traço
E nisso o quanto houvesse se mostrasse,
Negar a tempestade, tolo impasse,
Ou mesmo sonegar um manso abraço,
E ser sem perceber tal erro crasso
Vivendo sem saber qualquer enlace.
Transporto em devaneios passos tortos,
E vejo os meus anseios, ledos portos,
Aonde com certeza não descanso,
O velho coração de um marinheiro
Encontra em mortos cais, derradeiro
Cenário que buscara qual remanso...


17

Não mais que alguma sorte ou mesmo acaso,
O prazo determina o fim de tudo,
E quando na incerteza me transmudo,
O medo se define em mero atraso,
Vivenciando a dor já me defaso
E bebo deste cálice onde iludo
O corte mais audaz e pontiagudo
Expressa o quanto possa em puro ocaso,
Castrando os velhos sonhos, sigo em frente,
E quando noutro instante se apresente
A marca mais arguta e violenta
Da imensa insensatez que ora nos guia,
Do néctar desejado e da ambrosia,
Apenas falsa ideia se apresenta.

18

Quisera acreditar e não pudesse
Restando quase nada do que um dia
Ousasse acreditar quando viria,
Traçando no futuro alguma prece,
Restauro o quanto em vaga luta tece
E mato os meus temores, agonia,
Vestindo esmeraldina fantasia
Numa utopia espúria que entorpece.
Quisera acreditar noutro cenário
E neste caminhar, no itinerário
Disperso entre terríveis tempestades,
A face desdenhosa de quem ri,
O quanto imaginasse além daqui
Que tanto quanto negas me degrades...

19

Encontro dentro da alma os velhos erros
Que tanto poderiam me trazer
Além do desvario e desprazer
Em tétricos cenários meus desterros,
Olhando para além, supernos cerros,
O mundo se desnuda sem saber
Do quanto se desenha ao perecer
Rasgando sobre as vias, seus enterros,
Negar o que de fato se desnuda
Na marca mais sutil em cada muda
As aves se libertam do passado,
O medo do que fomos não tem nexo,
E quando me desenho em tal reflexo,
Meu mundo sem sentido, malfadado...

20

Rescaldos de uma vida sem proveito,
Escalpes coletados; mil batalhas,
E quando noutro enredo vens e falhas,
Ao lado do que fomos não me deito,
Refaço cada traço e tento em pleito
Viver além dos fios das navalhas,
Sabendo do que possas e amealhas,
O manto se transforma ora desfeito.
Fitando este retrato sobre a mesa,
A marca mais audaz, frágil defesa,
Surpresas entre caos e novas marcas,
As praças e os quartéis, os medos tantos,
Os olhos que umedeço em desencantos,
As alegrias tolas, toscas, parcas...


21


Meu mundo se mostrasse de tal forma
Que nada poderia traduzir
A vida mais audaz que no porvir
Traduza o que de fato nos transforma,

Pressinto no caminho onde se informa
O medo que pudera resumir
O tanto quando muito a redimir
Grassando do futuro qualquer norma,

Acirram-se vontades e desejos
E nisso mesmo envolto em tantos pejos
O mundo se mostrasse mais diverso,

Negando o quanto possa e não viera,
A vida se desenha em rude espera
Trazendo a mansidão em todo verso.

22

Riscando a meu momento mais audaz,
Ousando acreditar no quanto houvesse
A vida se mostrando em rara prece
No todo que se faça enfim tenaz,

O pouco se deixando para trás
O peso que envergasse ou que pudesse
Traçar entre tormentas nova messe,
Vestígios de outro instante atroz, mordaz,

Restando o que se pode e não se perca,
A vida ultrapassando qualquer cerca
Se acerca do meu mundo mais sutil,

O medo se apresenta em gargalhadas
E as sortes noutros tons abandonadas,
Resume o quanto quis e não se viu...

23


Transformações sublimes, medo e riso,
Agônica expressão em rosto atroz,
O mundo se perdendo dentro em nós
Gerasse o medo em dor, puro granizo,

O todo que de fato mais preciso,
O medo já não cala mais a voz
De quem se imaginasse antes feroz
E nisto se renegue o paraíso,
Negar o dia a dia e se envolver
No quanto poderia e sem saber
Sentir a farsa feita em lusco-fusco,
Nos féretros carrego tais verdades
E sinto quando possa o que alto brades
Ainda que outros rumos; teimo e busco.

24

Um trago em noite escura, outra aguardente,
O medo no sorriso que se estampa,
Prepara tão somente a minha campa
Na cama mais suave que apresente,
O mundo se mostrasse penitente,
A vida noutra insânia agora acampa
E vejo efervescência onde se encampa
O luto que se mostra mais urgente,
Gerenciando um passo rumo ao quanto
Pudera noutro todo além do canto
Vencer o desamparo que me trazes,
A vida se deslinda em farsa e lua,
Mutante imagem vária, clara e nua
Deixando que se vejam novas fases...

25

Negar o que pudesse e não se veja
Sequiosamente eu busco outro momento,
Enquanto o que restara eu alimento
Vivendo o quanto em dores já poreja,
A vida se servindo de bandeja,
O rasgo se mostrara em corte e vento,
Tampouco a minha vida em desalento,
A carta que se esconda, além, sobeja.
Sem méritos, talvez, mas sem proveito,
O todo noutro engodo, novo pleito,
Mergulhos em vazios, nada além,
O preço a se pagar sendo custoso
Impede o quanto houvesse em riso e gozo,
Vivendo do que sonhe e nunca vem...


26

Transformo minha vida em farsa e sinto
O vórtice temível nos tomando,
Aonde na verdade fora brando,
O fogo que aquecera segue extinto,
E quando noutro tom de fato pinto
Meu mundo neste mundo em contrabando,
A vida de tal forma me isolando
Recolhe o que se mostre enquanto minto
E trace este cenário mais infando,
Ecloda nos meus olhos constelares
A fúria do que possa e, se notares,
Trará talvez somáticas loucuras,
As ásperas montanhas, armas fartas,
E quando das miríades me apartas,
Encontras o que tentas e procuras...

27

Unidos caminhantes do futuro,
Arcando com seus próprios desenganos,
Os dias mais sutis, sendo profanos,
Traduzem o que possa e até procuro,
O medo se desenha e sobre o muro
De todos os lamentos, novos planos
Morressem quando os julgas soberanos
Enquanto o quanto queira eu mal aturo.
Escarpas violentas, cordilheiras,
As sortes que se façam derradeiras,
As corredeiras seguem para o mar,
Negar o que pudesse e não tivera,
Alimentando ao fim a rude fera,
Sentindo o quanto amasse naufragar...

28

Imantando palavras e tentando
Vestir de luz e glória o quanto trace
A vida noutro instante em mesma face,
Ousando este cenário atroz ou brando,
E vejo o meu castelo desabando
No prazo que me destes, desenlace,
Restando a insensatez onde moldasse
O mundo mais audaz, sutil, infando.
As aves percorrendo imenso céu,
A vida se perdendo sempre ao léu
Ateus momentos meus que os concebesse,
Vergado sob o peso das mentiras
Aos poucos revivendo o que retiras,
Restando quase nada além da prece...

29



Ourives de uma vida que não tive,
Ocasos entre nuvens e invernadas,
As sortes pelas ruas, espalhadas,
O nada em minhas mãos, jamais contive,
Enquanto com tal fato se convive,
As lutas são deveras desprezadas,
E sei das poeirentas, vãs estradas,
E a fúria quando o louco amor me prive.
Negar o que se faça de tal jeito
E ter na negação qualquer direito
Afetos sãos tão meros e sem nexo,
O medo se desenha em sacrilégio
Traçando o quanto fora em privilegio
Marcando no jamais o meu reflexo.


30

Prazos determinam fins e dias
Crivando de esperanças e fartura
O tempo que de fato se perdura
Entre o quanto deseja e não terias,
As lutas mais ferozes e sombrias,
As mãos que se transcendem na procura
Da vida mesmo quando amarga e dura
Numa expressão serena ou agonias,
Respaldos mais sinceros do que há tanto
Vestisse outro cenário em desencanto,
Ou mesmo na expressão de um riso franco,
Tripudiando em corpos lacerados,
Os olhos entre nuvens desenhados,
Sangria mais voraz que enfim estanco.

31

Ausente de meus dias outros sonhos
Que tanto poderiam me ajudar,
Em plena noite escura caminhar,
Vencendo pesadelos mais medonhos,
Ousasse acreditar, fatos risonhos,
Que possam noutro instante madrugar,
Gerando o quanto quis a navegar
Por mares tão diversos e bisonhos,
Mesclando poesia e realidade,
O pouco que me resta ao fim se evade
E invade a solidão que me alimenta,
O corte mais profundo e até profano,
O medo pelo qual tanto me dano
Expressa esta ilusão mansa tormenta...

32

Servindo ao vencedor, vencida farsa,
Fazendo dos meus olhos u’a cascata,
A vida noutra face me arrebata
Tornando uma emoção, de fato, esparsa,
A luta que procura outro comparsa
Na insânia mais sutil, que se constata
Na falha tão constante, quase inata
A fúria que de fato tudo esgarça.
Legados de uma estúpida existência
A sorte se fazendo em penitência
Cadenciando o passo rumo ao vago,
Espero algum sorriso que não veio,
Presumo o que se possa sem receio,
E desta imensidão em vão me alago.


33


Dragando em fúria tantas ilusões
Bebendo em velhos copos destroçados,
Os olhos entre enganos embotados,
As marcas entre enredos, solidões,
E nisto outro momento em vão compões,
Rastreio os meus desejos esgotados
E tento noutro passo, os mesmos fados,
Jogados sob antigos alçapões.
E resignadamente nada traço
Sequer outra faceta, nova plaga,
A morte mansamente vem e afaga,
E nisto perco aos poucos meu espaço,
Arcádica expressão de um tempo morto,
Na ausência de esperança, um mero aborto...


34

Fragilizado, eu sigo sem paragem,
Levado pelos ventos do jamais,
E quando se imagina um novo cais,
A sorte se desfaz; rústica aragem,
O preço a se pagar, qualquer bobagem,
O manso se converte em temporais,
E os olhos entre nuvens tão venais,
Mortalha me protege; um doce pajem,
Amansam-se terríveis terremotos,
Os dias mais suaves ou remotos,
Os erros costumeiros, meus amigos,
Negar os velhos templos em ruínas
E quando em erros tantos me dominas,
Engodos conhecidos, mesmo antigos...


35


Grassando sobre os mortos que eu carrego,
Seguindo minhas pistas enganosas,
E sei do quanto pude em flores, rosas,
Viver outro cenário, atroz e cego,
E quando novo dia enfim renego,
As frases esquecidas, perigosas,
As praças entre farsas caprichosas,
Cravando no meu peito, clava e prego.
A vida se fazendo em vão prefixo,
Não pude discernir tal crucifixo
Que um dia fora guia em purgatório,
O medo me açoitasse sem remédio,
O todo se desdenha e dita o tédio,
Dos sonhos que perdi, o crematório...


36

Havendo ou não resposta ao quanto um dia
Tentara desvendar em noite escusa
A sorte mais audaz, mesmo confusa,
Tramasse o que de fato não traria,
Vencendo a mais temida hipocrisia,
Fazendo da esperança, a minha musa,
Realidade aos poucos se recusa
A perceber o fardo em fantasia,
Apresentando enganos costumeiros,
Meus dias mesmo sendo os derradeiros
Expressariam falsas impressões,
E o lento caminhar sem mais preceitos
Trariam novamente meus defeitos,
E neles as dispersas ilusões.

37

Jazendo nalgum canto aonde outrora
Vivera o coração sem mais cuidado,
O preço que se paga, sendo ousado,
Enquanto a solidão cruel aflora,
O mundo se transforma e sem demora
O prazo tantas vezes adiado,
A morte manda cedo o seu recado,
E o corte aprofundado desancora,
O pantanal que adentro em todo infausto,
Provoca dentro da alma este holocausto
No claustro onde encarcero uma esperança,
A rústica versão que se apresenta
Expressa no final outra tormenta,
Enquanto sem sentido, o passo avança.


38

Lavando os olhos tristes no que um dia
Servira como fosse lenitivo
O templo mais audaz, e mesmo altivo,
Gerasse o que de fato cegaria,
O canto noutro engano não traria
Sequer a mera luz, e sobrevivo
Ao tempo que se mostre um novo crivo
Marcando em carne viva, outra sangria,
Vestígios de uma sorte que não veio
O tempo se transcende ao mero anseio
E em devaneios sigo sem descanso,
Legados de uma história demarcada
Por farsas que ditassem tudo ou nada,
Cujo sentido, eu sei que nunca alcanço.

39

Zarpando por distantes mares sigo,
Velozes barcos buscam por um cais,
E sei que na verdade sem jamais
Viver o que pudera em manso abrigo,
O tempo noutro intento não consigo
E nele sinto os dias se venais,
O preço a se pagar, em infernais
Momentos quando em vão bebo o perigo,
Alheio ao que viria e não pudesse,
A senda mais suave em rica messe
Promessas ilusórias, medos tantos,
Na viperina face atocaiando,
O dia mais audaz se desenhando
Gerando no final mil desencantos.

40

Cruzando os velhos mares da paixão,
Escravo do que seja uma esperança
A mão que sem defesas segue e avança
O corte aprofundando a negação,
Olhando para os dias que verão
Apenas o sentido sem pujança
Rompendo o quanto fora em aliança
Moldando a mais temível estação,
Negar o quanto houvesse em luz sombria,
Cerzindo dentro da alma a fantasia,
E o medo no sorriso em pura farsa,
A sina de um poeta não sincrônica,
A vida se traduz em dor tão crônica
Enquanto o próprio tempo, a sorte esgarça.


41

Vagando pelos ermos de minha alma
Sentindo o que se faça mais sutil,
E o medo mais atroz não permitiu
O quanto em luz diversa nos acalma,
À parte do que seja em melodrama
A marca da pantera em plenas garras,
As lutas quando tramam as amarras
O mundo não teria a menor chama,
O bêbado cenário transcendendo
Ao cético momento que se visse,
O todo refletindo uma mesmice,
Sem mesmo se tentar algum adendo,
Disparo meus canhões contra o vazio
E bebo o quanto, tolo, eu desafio...

42


Bravatas esquecidas noutros ermos,
Os olhos no horizonte estando fixos
Negassem os quem possam crucifixos
E mesmo outros anseios, velhos termos,
Os dias sem defesa, a farsa feita
Apátrida versão contextual,
E nisto outra vertente onde usual
A prática de fato não se aceita,
Refaço cada passo envolto em nada,
Deixando para trás o quanto fora
A velha sincronia tentadora
Gravando outra palavra destroçada
E nisso se vencesse sem acaso,
Restando ao quanto houvera o mero ocaso.

43

Empírica esperança sem valia,
O mundo não recende ao quanto valha,
A sorte decisiva da batalha
Restaura o quanto seja hipocrisia,
E nada do que possa, dia a dia,
A faca se aproxima da navalha
E o medo a cada olhar quando se espalha
Eclode no que tanto perderia,
Espessas nuvens, brumas costumeiras,
E mesmo quando aquém ainda queiras
Espalhas pelos cantos vozes frágeis,
E sigo sem cansaço cada rastro
Nos ermos de meu mundo, teimo e alastro,
Embora os inimigos; sei-os ágeis.

44

Navego entre borrascas, calmarias,
Na brisa que eclodisse em tempestade,
A vida com total iniquidade
Expressa o quanto em vão não me trarias,
Os olhos entre nuvens mais sombrias,
A mão que pouco a pouco nos degrade,
Rompendo a cada instante nova grade,
Ousasse imaginar mais avarias,
E quando após o todo, enfim acordo,
O mundo se moldando em estibordo,
Ancoro quando a vida se desprende
Sem ênfase ao que possa ser além
O dia sem defesas, sempre vem,
E nada do que tente, ao fim me atende...

45

Macabras faces num momento espúrio
Vestindo as mesmas ilusões, dispersas,
E quando noutro engano vão submersas
Verdades expressando um falso augúrio,
Encontro meus escombros mesmo quando
O tempo noutro templo se mostrasse,
O risco sem temor mostrando a face
Aos poucos noutro enredo se moldando,
Negar o quanto houvera e não vivesse
É como caminhar além clausura,
Marcando com terror cada procura
E nela o que de fato conhecesse,
Presumo o quanto faça deste enfado,
O mundo noutro enredo disfarçado.

46

Amar e ter nas mãos o que se tente
Vestígios de outros erros quando há tanto
Procure revestir em farto manto
Farrapo que de fato nada invente,
Da vida em ilusão sigo descrente,
E bebo a imensidão em cada canto,
Seguindo a solidão um falso encanto
No pranto que me impede o ser contente,
Carcaças de uma luta sem valia,
O mundo não pudesse nem teria
Aprofundada senda em abismais,
Os olhos se procuram noite afora,
E a fúria sem limites me devora
Envolta nos anseios do jamais...

47

Carpisse cada morte que carrego
Em ênfases diversas, morte e riso,
O tempo que procure este impreciso
Detalhe quando olhar seguisse cego,
O medo noutro enredo que navego,
O corte mais sutil e quando o viso,
Encontro o desencontro aquém do siso
E bebo o quanto possa e não me entrego,
Herética expressão do mundo em vaga
Fartura que de fato não me afaga
Esbarro nos vazios de um cenário
Macabra sensação que possa e trace
O mundo num temível desenlace
Aquém do que se faça necessário.

48

Jogado sobre as rocas, estilhaços
Espalhados pelas praias de que um dia
Erguesse em cada olhar uma agonia
A vida se mostrando em mil pedaços,
Tomados pelos medos e cansaços
Presumo o que em verdade eu não veria,
E sigo sem saber da fantasia
Que possa me estreitar em firmes laços;
Levado pelo vento sem defesas,
Os olhos embotados sendo presas
Das tantas artimanhas de uma vida
Esboço do que fora alguma sorte,
Sem nada nem carinho que conforte
Apresentando a história assaz perdida...


49


Esgoto dentro da alma que alimento,
No pútrido jazigo que me deste,
O tanto quanto seja e se deteste
Enfrenta no final tal desalento,
Enquanto em mil correntes me arrebento
Engano a velha face mesmo agreste,
E sigo sem saber por que vieste
Na viperina face, olhar atento.
E sinto mesmo a queda após o todo,
Vivendo o quanto possa em lama e lodo,
Legados de uma estúpida faceta
Da vida sem saber do que viria,
Resumos de uma tétrica utopia,
Aonde o que me resta se arremeta.


50

Um vasto lamaçal, sutil herança
Da insânia mais voraz que me restasse,
O tempo noutro enredo provocasse
A luta feita em luto, em corte e lança
O todo se mostrando em tal vingança
O passo em desencanto gera impasse
E o tempo noutro tanto se formasse
Marcando com terror nova aliança,
Vencido caminheiro do passado,
O mundo que percebo desolado
Ao lado desta imagem sem relevo,
Num sonho mais sutil, em doce enlevo,
Em derrocada vejo o velho templo,
Na morte sem igual, sequer exemplo...


51

Não mais que meramente a mente ronda
O temporal diverso que se creia,
Na face mais sutil dispersa teia
E nisto outro momento gera uma onda,
O preço da verdade a sorte estronda
E sigo uma ilusão quando incendeia
A fúria que de fato insana ateia
A marca mais audaz que a vida esconda.
Negar o que se faça aquém do prazo
E o tempo se mostrasse em rude ocaso,
Acaso não veria o fim da história,
A marca mais sutil, unhas e dentes,
Os olhos penetrantes e evidentes
Trazendo no final a moratória.

52

Entranho meu passado e vejo o fardo
Que possa desvendar qualquer sinal
Vestígios de uma vida bem ou mal,
Gerando no final qualquer retardo,
E sei quando em verdade o quanto aguardo
Depois do que se faz fato e afinal
Tocasse um sonho vago ou invernal,
Pensando ser além, mero petardo,
Um eco se refaz em verso e prosa,
A luta sendo sempre caprichosa
Esgota toda a força quando advenha
Da amortalhada face desvalida,
Vagando sem ter rumo pela vida,
Enquanto a morte traça a velha ordenha...

53

Embalde se imagine uma saída
Aonde na verdade nada existe,
Somente o mesmo olhar amargo e triste
Que traga a face atroz e corroída,
Legados de uma luta já perdida,
Insana criatura em vão insiste,
E bebe do que possa a vida em riste,
Negando outro cenário, e assim se agrida,
Restando como herança a farsa atroz
De quem se imaginando logo após,
Enclausurado enfrenta outra masmorra,
A morte solução já se demora,
Nem mesmo uma ironia venha agora
E nada no final, inda socorra...

54

Meu passo entranha em tráfegos ferozes
As farpas de uma lenta sensação
Do corte mais audaz quando virão
Somente sensação de vãos atrozes,
Nos dias mais felizes, falsas fozes
De rios que se esbarram no senão,
O luto com total sofreguidão
Calando desde sempre frágeis vozes,
O sonho se imiscui na realidade,
Realça o quanto houvesse em rude grade,
Agrade ou desagrade, nada resta,
O preço que se paga é mesmo assim,
A morte se aproxima e dita o fim
Na face mais arguta e mais funesta.

55

Ouvisse a voz da vida que se esvai,
Jamais me imaginasse mansamente,
A própria sensação nada desmente,
Enquanto o dia a dia sempre trai,
O medo noutro enredo me contrai
E toma sem sentido corpo e mente,
O fardo que descreve esse demente
Eclode no que possa e em dor retrai,
Avassalando o sonho mais sutil,
O todo noutro enredo se previu
E vicejasse em vão a mesma farsa,
Negasse alguma luz, tosco farol,
A noite em sortilégios no arrebol
Transforma uma alegria em luz esparsa.

56

A morte atocaiada em luto e corte
O fato mais atroz e sem valia,
Encontra a cada engano a fantasia
E dela derivasse apenas morte,
O tanto num delírio não comporte
A mera sensação de hipocrisia,
Vencido por quem sabe em valentia
Ao menos outro engano eu não suporte,
Esbarro nos abismos, precipícios,
E vejo sem sentido tantos vícios
Ofícios de uma tétrica falácia,
O medo se espalhando ora inclemente,
A boca se mostrando em tom descrente
Negando qualquer luz, sem eficácia.

57

Heliantos sem destino em meu jardim,
Perdidos numa vida nebulosa,
A sorte mais ingrata e caprichosa
Expressa o quanto possa haver em mim,
Eclodo num vazio e sei do fim
Que possa transcorrer em rude prosa,
A vida se mostrando dolorosa,
Meu mundo em derrocada é sempre assim,
Legados de outros sonhos que não tive,
O pouco quando resta e sobrevive
Apenas tão somente, sem sementes,
Extingue qualquer sonho que inda reste,
Num mundo mais atroz, cruel e agreste,
Em dias tão fugazes e inclementes.

58



Avesso ao quanto pude e não tivera,
Apresentando apenas mera escória,
A vida se mostrando sem memória
Alimentando em si tal rude fera,
No preço em desvario, o quanto espera
Esbaforida senda em tosca história,
A vida se mostrando em palmatória,
Desfolha o quanto reste em primavera,
Loquazes ilusões não mais trariam
Sequer os desafetos que teriam
Os olhos no horizonte mais palpável,
Aonde se imagina a redenção
Pousando noutro enredo em dimensão
Além do quanto fora imaginável.


59


Escassas luzes ditam o que venha,
Cumprindo o meu papel, mesmo que o fardo
Expresse na verdade o quanto aguardo
E nisto outro momento não convenha,
Enquanto; no vazio, a alma se embrenha,
O medo se mostrasse sem retardo,
Não vejo a solidão qual fosse cardo,
O fogo se alimenta em brasa e lenha,
Nas plagas mais longínquas e dispersas,
As parcas invadindo as mais diversas
E loucas heresias que eu cultivo
Bebendo cada gole de um veneno
Que traga este sentido audaz e pleno,
No olhar sem mais delongas, nunca altivo.


60

Morrendo a cada ausência, em todo gole,
Da vida extasiante que eu buscara,
No quadro que se veja em tal seara,
Apraza-me saber da luz que assole,
O verso mais sutil, o mundo bole,
O canto em agonia, a voz declara,
Mergulho no vazio e sei da amara
Noção do que em terror não se controle,
Restituindo as dívidas que um dia
Pagasse com terrível, vã sangria,
Não mais se imaginasse algum resquício,
Porém neste abissal cenário entranho
E trêmulo percebo desde antanho
Apenas este imenso precipício...

61

Documentando a morte em cada verso
Que possa se mostrar aquém do encanto,
O preço a se pagar, diverso canto,
O medo resumisse outro universo,
E quando noutro tom eu me disperso,
E sinto o que em verdade eu não garanto,
A luta se desdenha e bebo o pranto
Enquanto se desenha céu perverso,
Acolho meus escombros, sigo só,
Da vida que se faça em mero pó
Polvilho alguma luz, mesmo que escassa,
Resumo em toda ronda sem sucesso,
O quanto se pudesse e não confesso
Sequer o que de fato a vida traça...


62

Olhares entre engodos e farsantes,
Escândalos dispersos do meu mundo,
E quando noutro passo me aprofundo
Os olhos se perdessem discrepantes,
Os medos tantas vezes delirantes
O passo sobre o solo mais imundo,
O canto sem sentido, vagabundo,
As luzes mais sutis e provocantes,
Mesclando voz e sons, nada concebes,
A vida se transcorre em velhas sebes
E sela o quanto possa em tal desnível,
O mundo se aproxima do final,
O canto se desdenha sempre igual,
Embora o sonho seja ora impossível...


63

Envolto pelas brumas da existência
Sem mérito qualquer, farpas e espinhos,
Os dias entre enredos mais daninhos
Encontram no vazio a persistência,
Invadindo narinas, pestilência,
Erráticos momentos cirzam ninhos,
E bêbado eu procuro em descaminhos
O quanto se mostrara em evidência,
Um mundo envolto em restos execráveis,
Presumo em ritos loucos e incontáveis
Os ditos que maldigo e não conceba,
Cortejo mortuário de quem ama,
A vida se desfaz em corte e lama,
Enquanto a escuridão além receba...


64

O peso de uma vida sem valia,
O preço a se pagar não mais se expresse
No todo que se mostre em rude messe
Matando desde sempre a poesia,
Apócrifa ilusão não traz em si,
Sequer o quanto pude imaginar,
O sonho se desfaz e sem luar,
O pouco que tivera já perdi,
Não mergulhasse em vão, pouco me importa,
O corte mais profundo não me toca,
Na vida a simples morte trama a troca
E fecha enquanto abra nova porta,
Assim seria o quanto desejara
A sólida impressão de outra seara...


65


Num ato mais insano este volátil
Momento se expressara sem futuro,
O passo que de fato configuro,
Meu mundo se mostrara, em si, retrátil,
Apática figura, ensandecida,
Apátrida expressão de amor intenso,
E quando noutro instante não compenso,
Amortalhada sorte nega a vida,
Em ávida expressão cabe o vazio,
Em tétrica ilusão restauro enganos,
E dias mais sutis ou soberanos,
Completam meu tormento e desvario,
Exprimo com palavras mais ferinas,
As farsas tão ferozes, cristalinas...


66

Quisera acreditar no que me dizes
Restando dentro da alma uma ilusão,
Traçando noutro instante a solução
Vencendo os mais diversos vãos, deslizes.
Conheço dos meus erros cicatrizes
Enganos que de fato mostrarão
Futura e sem sentido direção
Da vida que se aprende em erros, crises.
Lavando meus pecados, minhas cismas,
E quando noutros tons, diversos prismas,
As faces se transformam; nada houvesse,
Sequer o mais distinto sortilégio,
A vida em suas dores, um colégio,
Das vergastadas faço minha prece...


67

Encontro em desencontros as respostas
Roubando da ilusão, ensinamentos,
Tocado por diversos elementos,
As cartas sobre a mesa estão dispostas,
E quando noutro engano vens e apostas
Pressinto em vãs angústias e lamentos
Os dias que se façam rudes, lentos,
Em faces tantas vezes decompostas.
Prenunciando o fim, desde o começo,
E tendo no final quanto mereço
Respaldos de loucuras, desenredos,
Os olhos no futuro sem mais brilho,
Apenas sem saída alguma, eu trilho,
Aberto o coração, mortos segredos...


68

Recibos que essa vida me trouxera
Depositando enganos mais sutis,
O tempo se mostrasse onde se quis
Viver a sutileza em primavera,
Marcada sensação que tanto espera
E gera outro caminho, por um triz,
Desnuda madrugada, a lua atriz,
Reflete em bela prata uma pantera,
Deitada sobre a cama em fúria e gozo,
Um tempo mais gentil e audacioso,
Num êxtase de fato incomparável,
Prenunciando em plena madrugada
A fronde mais sublime e demarcada
Num mundo muito além do imaginável.


69

Tentaculares olhos me tocando,
Bebendo cada gota do que um dia
Pudesse ser bem mais que fantasia
Um temporal imenso, audaz e brando,
Resulto desta insânia desde quando
O amor em grande encanto se daria,
Deitando sobre o solo, poesia,
Num mar paradisíaco adentrando.
Miríades de luzes, cada olhar,
Além do quanto pude imaginar,
Na constelar loucura que me invade,
Jamais determinando o quanto existe,
O templo se adivinha, e a vida insiste,
De um temporal se faz felicidade...

70

Unindo nossos corpos, mil desejos,
Abrindo estes portais ao infinito,
O quanto se desenha mais bonito,
Embarca nos delírios tão sobejos,
Os sonhos do passado, outrora andejos,
Agora encontram manso e claro rito,
No tanto que deveras exercito,
Ouvindo da esperança seus arpejos.
Em arquejantes noites desvairadas,
As marcas mais profundas, demarcadas,
Os lanhos violentos do prazer,
A fúria não se aplaca um só segundo,
E quando do teu mundo além me inundo,
Eu me aprofundo inteiro em teu querer...


71

Imantados delírios que se tocam
Num único e sublime palpitar,
Caminhos sem limites penetrar,
E neles os desejos já se focam.
Em sinuosos rumos se provocam
Loucuras e vontades num sem par
Cenário aonde eu possa mergulhar,
Em obras divinais que se retocam.
Eclodem em vulcânica fartura,
As lavas onde adentro sem pudores,
Impudicos momentos, fogos, flores,
E um êxtase sem par o amor procura,
Vivendo o que pudesse ou mesmo além,
O todo que por tudo invade, vem...


72

Ouvindo o mar bramindo em doces tons,
Noturna sinfonia inesquecível,
Um canto sem igual, num imperdível
Concerto desenhado em belos sons,
Eclodem em estrelas, megatons,
Resplandecente encanto onde imbatível
Mergulho se fizera mais sensível
Traçado por divinos, raros dons,
Abrindo os horizontes entre trevas,
As luzes mais sublimes que ora cevas
Invadem nosso quarto em harmonia,
Adormecida deusa, ora sorris,
E sinto quanto possa ser feliz,
Quem tanto se permite em poesia...

73

Presumo um toque audaz de quem se fez
Além do meramente, em raridade,
O amor que quando possa toma e invade,
Gerasse no final a insensatez,
A vida sem temor, e sem talvez,
Deixando no caminho a sanidade,
Ousando em perceber na liberdade
A mais completa e clara sensatez,
Divina sensação em gozo e festa,
Um cântico suave agora atesta
Romântico cenário em plena paz,
Amantes desvairados, loucas horas,
Enquanto cada encanto se refaz,
Em lúbrico desejo, me devoras...

74

Aumentam-se os desejos quando a vida
Eclode em outras tantas expressões,
Sem tolos pundonores tu compões
A sacrossanta imagem concebida,
E tanto se desenha sem partida,
O mundo em mais sobejas dimensões,
Marcando com ternura as erupções
Na fonte em igualdade dividida.
Dessedentando o velho caminheiro,
Cevando onde deserto, o meu canteiro,
Colhendo primavera em rude estio,
Multiplicando pães de um mero toque,
Gerando do vazio imenso estoque,
Da aridez, caudaloso e farto rio...

75

Sementes espalhadas pelo solo,
Lascivas noites claras, envolventes,
E quando noutro instante dois dementes
Adentram o que possa e sinto, assolo,
Deitando mansamente no teu colo,
Sentindo o quanto queres e pressentes,
Fazendo da luxúria, meus presentes,
Pecado sem juízo, medo ou dolo.
Mesclando pernas, coxas e delírios,
Deixando sem sentido alguns martírios,
Navego por teus mares, oceanos,
E sinto num instante o ser bem mais
Que em lavas delicadas derramais,
Em jogos sensuais e soberanos...


76

Domínios entre jogos e palavras,
Restando muito pouco e mesmo assim,
O renascer se faz dentro de mim
Enquanto no vazio sei que lavras,
Escassas ilusões. Não poderias
Trazer em tuas mãos a farsa pronta,
E quando a imensidão além desponta,
Vencesse tardes rudes e sombrias.
Arguindo sobre a vida e seus infaustos,
Arcando com seus próprios desencantos,
Os dias entre enganos, sendo tantos,
Não merecessem ser vis holocaustos.
Clausuras onde escondes os teus erros,
Apenas se fizeram vãos desterros...

77

Fagulhas espalhadas pelo vento
Tocando a ressequida imensidão
Trazendo no final, o morto grão,
Grassando sobre todos tal lamento,
E quando outro caminho em paz eu tento,
Enfrento tão somente a negação,
As horas revividas não verão
Sequer o quanto possa o olhar atento.
Libertas emoções, o peito arqueja,
A luta mesmo audaz, força sobeja,
Eclodiria em mares mais profundos,
No incêndio desmedido e sem fronteiras,
As horas mais sublimes, derradeiras,
Unindo em fogaréus diversos mundos...


78

Girando em carrossel, o tempo passa,
Grassando sobre os erros em novéis
Cenários que demonstrem seus papéis,
O todo se esvaindo na fumaça.
O mundo se desenha em plena praça
Além dos velhos tantos carretéis
Legados de outros vários carrosséis,
No amor que se emoldura em rara Graça.
Alegro-me ao saber do quanto pude,
Vencido pela vida, outrora rude,
Ainda renascer qual fora larva,
E a face angustiada, atroz e parva
Marcasse noutro tom bem mais ameno,
A neutralização de algum veneno...

79


Hedônica vontade que me leve
Ao gozo incontinenti e mais sutil,
O quanto se deseja e se anteviu
A cada novo instante além se atreve,
Ainda quando a vida se faz breve,
Ainda quando o tempo se faz vil,
Saber da imensidão de um manso ardil
Vencendo em primavera, o frio e a neve.
Jargões de vidas tolas corroídas,
Palavras quando ao vento repartidas,
Por vezes sem sentido, se perdendo,
No quanto se pudesse ser mais lúcido,
O sonho num anseio tão translúcido,
É mais que meramente um dividendo...


80


Jamais imaginasse um dia após
O temporal que tanto antes temera,
Na liquidez sutil, da mera cera,
O mundo noutro mundo busca a foz,
O passo se desenha dentro em nós
E nisto o quanto possa e percebera
Transcende à sensação que concebera
Um canto mesmo quando em frágil voz.
Lavando com as lágrimas, meu rosto,
Um verso entre universos recomposto
Perceba o meu momento crucial,
De uma partida vaga, até vazia,
Rumo ao que imenso e pleno se veria,
Um cântico dorido e magistral...


81

Lacustres ilusões, mineiros mares,
Dunas distantes, sonhos implausíveis,
Tentáculos diversos, invisíveis,
As frutas maturando em meus pomares,
Antigas sacristias, meus altares,
Momentos entre enredos concebíveis
Rasgando em infinito, os mais incríveis
Anseios tomam mesas, risos, bares,
Esquinas percebidas num complexo
Cenário que resulta no reflexo
De imagens sobre as ondas inconstantes,
Os sinos anunciam procissões
E os olhos procurando imensidões
Por vezes, sendo ausentes, delirantes...

82

Cerzindo novos dias entre tantos
Momentos mais sublimes ou ferozes,
Os sonhos proliferam meus algozes,
Cumprindo os mais diversos desencantos,
Estanco o passo e busco noutros cantos
Além dos dias turvos, mesmo atrozes,
Ouvindo; do vazio, roucas vozes,
De dias tão venais, porquanto santos.
Os cálices quebrados, sangue e vinho,
O mundo se desnuda num moinho
E rompe estas cadeias e correntes,
Nos olhos lamentosos de um passado
Que há tanto se fizera desolado,
Ermos inconcebíveis e inclementes.


83


Vagando pelas ruas da cidade,
Mendigo algum sorriso ou mesmo até
Tramasse com doçura a farsa, a fé,
Sabendo da fatal iniquidade.
O sonho pouco a pouco em vão se evade
E sinto este temor por ser quem é
Atando algum grilhão em cada pé
Encarcerando a vida em firme grade,
Não merecesse ao menos uma sorte
Diversa da que tanto desconforte
No porte mais temido, ora maldito,
O vento contraria a direção
E sigo que meu canto sendo em vão
Expressa o quanto amor se faça um mito.

84

Bravatas costumeiras, falsa imagem,
Incautos passos, presa do que um dia
Pudesse imaginar e não teria,
Amor se transformando em vã miragem,
A tosca e mais sombria paisagem,
Apressa o quanto houvera em agonia,
Grassando sobre a pedra atroz e fria,
Futuro se evadindo em mera aragem.
Negar em descaminhos meu futuro,
Enquanto o que perdesse configuro
No escuro desenhar de um desvario,
Bisonhas faces dizem do que eu fora,
Na farsa mais audaz e sofredora,
Perdesse a direção, indo ao vazio...

85


Nos olhos a esperança sem defesas
Presumo o que jamais se imaginasse,
Reluta a solução em louco impasse,
Prenunciando além destas tenazes
Versões que tão complexas me trazes
Gerando o quanto possa e não tramasse
A vida sem sentido enquanto embace
Os passos entre quedas contumazes,
Amenizando o corte mais profundo,
Bebendo a solidão quando me inundo
Do nada entre mesquinhas engrenagens,
Os olhos se perdendo em constelar
Delírio de uma noite sem luar,
Mutáveis e temíveis paisagens...


86


Marcando com desejos a cadência
De um tempo mais suave ou mesmo manso,
Enquanto sem temor algum avanço
Amor se mostraria em evidência,
Jazendo nalgum canto sem clemência,
Prevendo o que de fato não alcanço
Pudesse imaginar qualquer remanso,
Vencendo com vigor a imprevidência,
Restauro com palavras, sentimentos,
E estando sempre exposto aos tantos ventos
Alentos encontrando num sorriso,
Acasos espalhando em luz e sonho,
O todo que se queira mais risonho
Usando o verso audaz, mesmo preciso...

87

Quebrantos e temores usuais
Nos ermos entre errática loucura,
Esbarro no que a sorte em vão procura
E bebo teus desejos sensuais,
Pudera imaginar um novo cais,
A vida sem defesas me tortura,
O manto se traduza em amargura
Exposta aos mais temidos vendavais.
Vestígios espalhados pelo chão,
Resquícios de uma história sempre ingrata,
E a face sorridente não retrata
O quanto se mostrasse em sim e não
Meu medo se transforma em agonia,
E a face da esperança hoje é sombria...


88

Esqueça o quanto pude e não tivera,
Envolto pelas brumas mais espessas
Heréticas imagens que às avessas
Entoam solidão, temível fera,
O gosto quando o mundo destempera,
Rolando sobre o chão tantas cabeças,
Vivendo o que talvez já não mereças
A luta tanto enluta e desespera.
Apraza-me saber de alguma luz,
E mesmo quando o sonho me conduz
Encontro em empecilhos, falsas pistas,
Hercúleas emoções se fazem toscas,
As luzes sendo apenas frágeis, foscas,
As dores dos meus erros, avalistas...


89

Atômicas loucuras, cruz e tédio,
Atônitas figuras refletidas
Nas falsas impressões mal percebidas,
Traçando no vazio algum assédio,
Erguida solidão em cada prédio,
As farsas entre fases concebidas,
Ousasse imaginar novas saídas,
Aonde não se tenha mais remédio.
O corte na raiz de uma novel
Vertente que trouxesse além do véu
De nuvens um solar claro infinito,
Relega o meu caminho ao que não seja
Sequer imagem clara, audaz, sobeja,
Tornando uma alegria, mero mito...


90

Riscando espaços sigo aquém do todo
Que tanto imaginasse como meu,
O fato noutra face se perdeu,
Deixando o meu caminho em pleno lodo,
A sorte desvendada sem denodo,
O preço que a verdade concebeu,
O canto no vazio se esqueceu,
Meu sonho traduzira algum engodo;
Restauro com palavras lavras mortas,
E sinto quantas vezes vens e aportas
Em erros tão comuns quanto infelizes,
Nas tramas velhos traumas repetidos,
Os olhos beijam sonhos refletidos
Marcando o quanto quero e contradizes...


91

Prazeres confundidos com anseios
Em veios tão dispersos, paralelos,
A vida semeando novos elos,
Os olhos em possíveis devaneios,
Os dias procurando novos meios
E neles onde outrora fossem belos
Cultivos entre enredos e castelos,
Mostrassem dias rudes, quase alheios.
Encontro meus pedaços pelas ruas
E vejo quando além tentas, flutuas,
Reflexos discernidos na penúria
Da vida sem sequer ter serventia,
O pouco no que tanto se queria,
Expressa no final, farta lamúria...

92


Fazer do meu desejo uma bandeira
Ilimitadamente ter em vós
O quanto se desenha logo após
O mundo que em verdade assim se queira,
 Ser-vos-ia talvez a derradeira
Loucura que pudesse mais atroz,
E serdes num delírio o meu algoz
A imagem mais sublime, lisonjeira.
Ides pelas noites vaporosas,
Envolta por perfumes, raras rosas,
Adentrai caminhos novos e perfeitos,
Arcando com meus erros vos seguindo,
Aos poucos deslumbrando um novo e lindo,
Cenário que enalteça belos pleitos.

93

Erguei-vos do que outrora fora apenas
Um átimo num mundo mais sutil,
O todo noutro encanto se reviu,
Vivendo com ternura raras cenas,
E sigo muito além das duras penas,
Enquanto noutra face se sentiu
O vento em maciez, doce e gentil,
Nas horas com certeza tão amenas.
Escalai as várias cordilheiras,
Adentrando as noites claras e altaneiras
E nelas se moldassem esperanças,
Meu dízimo se paga em fonte e glória,
Mudando o próprio rumo de uma história
Envolta por guerrilhas e alianças...

94

Prenunciando o quanto houvera em vida
Diversidades tantas encetando
Caminhos pelos quais o vento brando
Moldasse noutra face uma saída,
E quando se imagina ora perdida
A face se desnuda demonstrando
O corte quando o sinto aprofundando
Na luta mais feroz, rude e renhida,
Especulares mundos ditam faces
Marcando em derradeiros desenlaces
Na expressa sensação do ser bem mais,
E percebendo acerba maravilha,
Ousando acreditar, mera armadilha,
Na vida entre momentos tão venais...

95

Liquefazendo o quanto fosse sólido,
Inauditos momentos que se tomam,
Enquanto noutros olhos já se assomam,
Delírios entre tantos, feito um bólido,
O mundo se desvenda em malefícios
E farsas costumeiras ou medonhas,
Além do que pudesse e me proponhas
Deixando no caminho alguns indícios,
Precisas emoções em tom suave,
Agravos e temores condizentes,
Meus olhos entre estrelas, reluzentes,
Usando da alegria, nossa nave,
E assíduo caminheiro do futuro,
Abrindo o coração eu me depuro...


96


Ciganos sob a lua, as guitarras,
Das fráguas que nos tocam, mansamente,
O preço se apresenta onde se tente
Vencer as ilusões, sublimes garras,
Nas mãos adagas, facas, cimitarras,
Amar se mostraria mais urgente
E quando se desdenha o quanto invente,
Estridulosos cantos de cigarras.
O peso verga o corpo em duro ocaso,
E quando a cada instante gero ocaso,
Apraza-me saber do quanto queira,
A fonte luminosa e mais brilhante
No todo que deveras me agigante
Fazendo de um amor, força e bandeira.


97

Ouvindo a voz do vento repetindo,
As velhas ilusões que eu alimento,
O tempo se mostrara mais atento
Num dia sem igual, sobejo e lindo,
Arcando com meus passos, prosseguindo,
Vestindo o quanto houvera em paramento
Cerzindo com delírios, sempre atento,
Marcando em claridade o que deslindo,
Arquétipos moldados, numa insone
Loucura que de fato após se adone
Do todo mais vulgar ou mesmo hermético,
Trespassa em solidão, farpa e falácia,
Na viperina imagem de uma audácia,
Que trace o vão perfil, atroz e herético.


98


Já não me caberia decidir
Se o passo fosse além da espúria queda,
A vida sem vitórias sempre veda
O quanto imaginasse no porvir,
A sorte que comporte este elixir,
O preço se refaz, cada moeda,
A dor que na verdade toma e seda,
Envolta no que possa redimir,
Orgástica loucura em noite clara,
A boca mais voraz além prepara
Em ápice o desejo mais atroz,
Restauro com meus versos o que possa
Da vida sendo além de tudo nossa
Encontra qual pousada o logo após.

99


Espreito as minhas farsas e entabulo
Com fartos e distintos, meus preceitos,
Os olhos semelhantes aos perfeitos
Momentos quando o passo; além, cabulo,
Aturo os mesmos erros e noutro pulo
Encaro o quanto houvesse em meus defeitos
E sigo meus anseios, claros pleitos,
E o lodo noutro engodo, agora engulo.
Na belicosa sorte sem saída
Eterna sensação de revivida
Paisagem entre os escombros dos meus sonhos,
Açoites vão lanhando minha pele,
Enquanto o tempo além teima e compele,
Adentrando horizontes vãos, bisonhos...


100

Acreditar no amor que nos redima,
A luta mais feroz se desenhando
Notórias ilusões de um tempo brando
O tempo se desenha em raro clima,
Organizar um mundo que se prima
Por ter em seus momentos sempre quando
O todo noutro tanto se formando,
Buscando a mais perfeita e clara rima.
Esplendorosa luz noutro horizonte
E nele cada olhar em paz aponte
A mágica expressão do amor sublime,
Notar como é possível ter além
Do velho sentimento que contém
Além do que jamais a paz suprime...


101

Querendo outro caminho aonde eu possa
Viver uma esperança sem temores
Seguindo sem sentido enquanto fores,
Vagando sem saber se há medo ou fossa,
A vida se fazendo toda nossa,
Enfados desenhando novas cores,
Pudesse muito além dos dissabores,
Conter um infinito que se esboça
Na voz de um sonhador que jamais negue
Um mundo que pudera e não sossegue,
Rasgando os velhos trapos que inda trago,
Vestígios de uma vida sem proveito,
E quando após enganos eu me deito,
Procuro um novo tempo, imenso ou vago...

102